Daniel Rangel vence barreiras e chega à “Malhação”
O mundo do entretenimento não é tão fácil quanto alguns imaginam. Para conseguir chegar no topo, é preciso lutar, passar por diversos desafios, processos e testes, mas nunca desistir.
De Campos dos Goytacazes, interior do Rio de Janeiro, esse rapaz mostrou que não é impossível ultrapassar barreiras. Desde muito novo ele decidiu que queria ser ator, mas como uma pessoa que mora longe dos grandes centros e que não tem familiares nessa área conseguiria isso?
Daniel Rangel tem fogo nos olhos e vontade de ser feliz crescendo em sua profissão. Aos 14 anos ele trabalhava para iniciar sua carreira na Hollywood brasileira, Rio de Janeiro, e se jogou de cabeça nessa aventura. Inicialmente a sua família levou um susto, mas foi convencida pela convicção que o garoto apresentava logo cedo, então o apoia até hoje.
Iniciou o seu sonho atuando em peças de teatro, algo que realiza até hoje, e foi se jogando no mundo da TV e cinema. Atualmente, Daniel é contratado de uma das maiores emissoras do país, a Rede Globo, e é protagonista da série “Malhação”, levando o trabalho muito a sério.
Em uma entrevista exclusiva para a Contrast Brasil, o ator falou sobre o início de tudo, o processo para chegar onde está, a pouca visibilidade que o teatro tem no Brasil e sobre os sonhos que deseja e vai alcançar.
Quando você percebeu que atuar era a carreira que você queria seguir e quem foi a pessoa que mais te influenciou nessa decisão? Tinha alguém que você se inspirava ou enxergava como um grande ídolo que você olhava e pensava “um dia eu quero ser como ele, eu quero tocar as pessoas com a minha arte como essa pessoa faz”? Uau. Eu citei essa frase ontem numa entrevista, que coincidência, ou seriam espiões? rs. Quando eu tinha uns 7 anos e assisti “Central do Brasil”, numa daquelas sessões de filmes das madrugadas da Globo, aquilo me marcou muito. Eu chorei sem parar, foi a primeira vez que a arte olhou no meu olho e me mostrou pra que ela existe. A partir daquele momento eu tive a certeza que queria fazer outras pessoas se sentirem como eu estava me sentindo.
Em algum momento os seus pais tentaram fazer você enxergar outras possibilidades e carreiras para seguir na vida ou eles sempre te apoiaram ao decidir seguir esse caminho? No início eles tomaram um susto, porque eu não tenho nenhum ator na família. Então eles não sabiam o que significava alguém ser ator, na verdade nem eu sabia, mas eu tinha certeza que era o que eu queria. Mas a partir do momento em que comecei a trabalhar com 14 anos pra juntar dinheiro e ir pro Rio estudar teatro, eles viram que não era só um sonho de criança, que era a minha vocação. E aí me apoiaram completamente, me apoiam muito até hoje. Eles são tudo pra mim.
De Campos dos Goytacazes para o Rio de Janeiro. Quando você percebeu que estava na hora de sair de casa e ir para o Rio e como foi toda essa transição, tanto dentro de casa com os seus pais, quanto na sua carreira ao chegar na cidade? Eu planejei tudo, nada aconteceu por acaso ou de última hora. Com 14 anos eu decidi que assim que acabasse o ensino médio, iria pro Rio estudar teatro na CAL. E aí comecei a focar nessa missão, e essa foi minha única dos 14 aos 17, eu ia pra escola, passava direto em tudo, nunca nem fiquei de recuperação, mas não entrei naquela vibe de estudar pro ENEM, não gastava energia nisso, porque não era meu foco. Paralelamente montei oito blogs e comecei a trabalhar com isso, juntei dinheiro suficiente pra ficar um ano no Rio. Quando meus pais viram isso, eles moveram montanhas pra me ajudar. Esse virou o foco e a missão deles também. Quando cheguei no Rio, fui colocar a missão em prática. Mas na prática, a teoria é outra rs. Foram muitos desafios, morar sozinho, cuidar de casa, entender o que era ser um ator de verdade, entender o ofício, conhecer os grandes clássicos, ver todas as peças possíveis, conhecer Nelson Rodrigues, Ibsen, Shakespeare…
Em algum momento você enfrentou algum tipo de dificuldade dentro do mundo da atuação que você chegou a pensar em desistir e seguir outro caminho? Seja no começo ou mesmo atualmente? Os primeiros seis meses aqui no Rio foram muito difíceis. Me sentia muito inferior, muitos passos atrás de todos que estavam estudando comigo. Esse foi meu maior erro, mas o que mais me fez aprender. Até que entendi que não se trata de uma competição, cada um tem sua própria história, seu próprio caminho. Desistir nunca foi e nunca será uma opção. Acredito que quando você encontrar sua vocação, não tem como fugir dela.
Em relação à atuação, para você, qual é o maior desafio no teatro e qual é o maior desafio na TV e cinema? Acho que em cada trabalho, os desafios são diferentes. Fazer teatro me ajuda muito a fazer TV, assim como cinema me ajuda muito a fazer teatro, e fazer TV me ajuda a fazer teatro. São coisas que se complementam, pelo menos pra mim. Se o dia tivesse mais horas, faria os três ao mesmo tempo.
Infelizmente, o reconhecimento que um ator tem no teatro é completamente diferente do que o ator de televisão e cinema. O que você acha que deve ser feito para mudar isso e os profissionais serem reconhecidos igualmente? Acho que as pessoas precisam desmistificar a profissão, esse falso glamour que vendem… tudo isso é péssimo, pra todos! E o teatro precisa voltar a ser valorizado, um país sem teatro é um país medíocre. Espero que as pessoas entendam isso o mais rápido possível, tenho medo de demorar e ser tarde demais.
Você participou de uma grande novela da Globo, que é “Novo Mundo”. Ela é uma novela de época e de uns anos para cá esse estilo está conquistando as telas das casas. Como foi a preparação para viver um personagem de época? Exige maior esforço do que para viver um personagem dos dias atuais? Fazer “Novo Mundo” foi um presente, minha primeira experiência significativa na TV, e já de cara trabalhando com várias pessoas que eu já era fã. Aprendi muito! E fazer um personagem histórico, Dom Miguel, exigiu uma preparação em vários sentidos. Estudei muito sobre esse período, tive aulas de prosódia, história, etiqueta, preparação corporal… Mas não diria que exige mais esforço do que viver um personagens dos dias atuais. Acho que são chaves diferentes, mas ambas muito difíceis e todas exigem muito esforço. Não tem um mais fácil e um mais difícil.
Muitos jovens do Brasil sonham em participar de Malhação por ser uma novela que representa a juventude e por abrir muitas portas. Como foi todo o processo desde os testes até você realmente entrar na novela? E qual foi a sua reação ao receber a notícia de que estava no elenco? Comecei o processo em agosto. Ficamos fazendo entrevistas, oficinas, workshops e testes até novembro, quando saiu o resultado final. Mas tudo foi muito especial, porque o processo era intenso e dava pra todo mundo mostrar seu trabalho de várias maneiras. Deu pra gente ir se conhecendo aos poucos e tinha muita horizontalidade entre a gente, que estava sendo testado, e as diretoras/autoras. Quando recebi a notícia fiquei num estado catatônico de felicidade, uma sensação de dever cumprido.
Hanna, a sua namorada, também fez parte do elenco de Malhação em 2013. O quão importante ela foi para você nesse processo para entrar para o elenco? Ela te ajudou na preparação, te deu dicas? Hanna é uma parceirona de vida, a gente conversa muito sobre tudo e sobre a profissão. Mais do que dicas, ela me deu apoio, torceu por mim, vibrava a cada etapa do teste que eu passava.
Sendo agora protagonista de Malhação, qual foi a maior mudança que aconteceu ou vem acontecendo na sua vida por causa desse trabalho? Como tudo está sendo muito gradativo na minha vida e na minha carreira, não sinto o peso de estar sendo protagonista. Me sinto fazendo mais um trabalho com a maior dedicação, o maior gás. É um trabalho de muita visibilidade e muito tempo, sem dúvidas o maior da minha carreira até agora. São muitas mudanças, principalmente em relação a prioridades. Gravo de segunda a sábado, e domingo é único dia que tenho para estudar as cenas da semana. Então penso muito nas coisas que quero focar e priorizar agora, nesse momento.
Quais as semelhanças e diferenças que você tem com seu personagem Alex? Me identifico muito com o Alex nesse ponto de ser um cara que gosta de se comunicar com todos os tipos de pessoas, querer abraçar o mundo. Ele é muito ligado na família e nos amigos. E quando ama, vai até às últimas consequências pra ser verdadeiro com o próprio sentimento.
Dentro da área que você escolheu trabalhar existem diversas possibilidades. Você já pensou, no futuro, em se aventurar em algo diferente como por exemplo roteirista, diretor, etc? Por enquanto só me vejo como ator, quero me aperfeiçoar sempre nesse caminho! Mas daqui a alguns anos pode surgir uma curiosidade de experimentar algumas ideias por trás das câmeras, mas no momento nem penso nisso. Como disse, preciso escolher bem minhas prioridades nesse momento, e a maior delas é ser um ator cada vez mais completo.
Qual seu maior sonho dentro da carreira de atuação? Fazer todos os tipos de papéis, e sempre conciliando teatro, TV e cinema.
Como você se imagina daqui 10 anos e quais seus planos após Malhação? Me vejo feliz, tendo mais sonhos e correndo atrás para realizá-los.