Uma menina se tornando uma grande atriz e, principalmente, uma grande mulher

Uma menina com vontade de ser atriz, de estar nos palcos trazendo entretenimento para o público no teatro, de fazer os telespectadores se emocionarem e abraçarem seu personagem na tv, e de poder trazer alegria e deixar as pessoas apaixonadas nas telonas do cinema. Essa é Giovanna Grigio. Uma garota que começou ainda criança nesse mundo, encantando a todos com sua primeira personagem na TV e que pôde mostrar, através de seu mais recentemente personagem, a mulher poderosa que se tornou.

Feminista assumida e toda empoderada, Giovanna leva o lema de que as mulheres são irmãs e devem ser unidas, sempre apoiando e dando suporte umas às outras dentro desse mundo tão machista em que ainda vivemos.

“Eu acho que unidas a gente pode fazer a diferença”

Fotógrafo: Mateus Aguiar / Stylist: Caio Gobbi / Cabelo e Maquiagem: Daniel Braz, Felipe Cavina e Miranda Preston

Se amar e se aceitar do jeito que é, é outra coisa que Grigio prega e dá como conselho a qualquer pessoa. Apesar de ser uma figura pública e de ter mais 5 milhões de olhares em cima dela, a todo o momento, a acompanhando pelo Instagram, a menina não tem medo de mostrar quem ela realmente é, e pelo contrário, ela gosta mesmo é de que todos possam ver a sua realidade, seja com a cara lavada, toda descabelada ou até mesmo mostrando que ter marcas em seu corpo é normal e que nunca vamos ser perfeitos.

Giovanna vem escrevendo sua história no mundo da atuação com cada novo trabalho e tem tudo o que uma pessoa precisa para se tornar uma grande estrela. Com um carisma enorme, uma humildade linda de se ver e apaixonada pelo que faz, a atriz se joga de cabeça em novos desafios, dando o melhor de si e fazendo o público se apaixonar por cada um de seus personagens. Foi assim interpretando Mili em Chiquititas e também foi assim com Samantha, em Malhação. Em seu mais recente trabalho, a atriz pôde dar vida a uma personagem que com certeza tocou muita pessoas, principalmente os jovens. Com Samantha assumindo um relacionamento com outra garota, Giovanna pode, a partir daí, dar voz a muitas pessoas que ainda, infelizmente, não se enxergam sendo representados nas mídias

“As mensagens que eu recebia das meninas e meninos se identificando com a Samantha e falando o quão importante era isso, era incrível”

Fotógrafo: Mateus Aguiar / Stylist: Caio Gobbi / Cabelo e Maquiagem: Daniel Braz, Felipe Cavina e Miranda Preston

Em um bate papo com a Contrast Brasil, a atriz nos contou sobre essa grande repercussão de Samantha, o quão importante foi dar a vida a essa personagem e todo o trabalho social por trás disso, o que o feminismo realmente representa para ela, o que tirou de aprendizado e experiência de cada trabalho que realizou até agora, e muito mais:

Quando você decidiu que ser atriz era a carreira que você queria seguir? E como foi a reação dos seus pais? Eles sempre te apoiaram? Eu acho que eu nunca decidi, na verdade. É uma coisa que eu meio que sempre soube, porque eu fazia muita propaganda quando eu era criança, era modelo e tal. Aí eu ficava modelando, fazia um comercial aqui, um comercial ali, aí comecei a fazer teatro com dez anos. Então nunca rolou esse momento “nossa, o que será que eu vou ser quando crescer?”, porque eu meio que já tinha me decidido. Não sei, foi natural. E aí os meus pais sempre me apoiaram. Eles que me colocaram para fazer tudo isso. Amo vocês gente, obrigada por terem me dado a vida.

Quando foi a primeira vez que você parou e pensou “eu estou famosa” ou “eu estou ficando famosa”? E o que te fez parar para pensar nisso? Eu nunca tive vontade de ser famosa, eu queria atuar. Era tudo que eu queria. Eu não tinha esse plano. Mas foi em um evento de Natal. Foi um evento que eu tinha que apresentar a chegada do Papai Noel na minha cidade e divulgaram que eu ia estar lá para apresentar ele. Tinha uma multidão no shopping e a galera gritava, e as crianças choravam, e tinham bonecas minhas penduradas nos cantos. Nesse dia eu fiquei “meu Deus do céu”, foi assustador. Mas eu nunca me acostumei, acho que nunca vou me acostumar.

O seu primeiro grande trabalho na TV foi como Mili em Chiquititas. Qual a maior mudança que ocorreu na sua vida depois que você concluiu esse trabalho? Acho que acabou sendo a questão do público mesmo. Da galera me conhecer e me parar na rua. Era uma coisa que eu não esperava. Aconteceu de uma forma que eu não esperava que realmente fosse acontecer. Eu sabia que fazendo novela a galera ia acabar me conhecendo. Então eu acho que o que mais mudou talvez seja isso, a possibilidade de alcançar o grande público, que é bom. Eu acho que é uma oportunidade. A gente tem a possibilidade de falar com um monte de gente, passar um monte de mensagens boas.

A novela foi um remake de um grande sucesso dos anos 90, e vocês conseguiram trazer esse mundo para as crianças da década de 2010. Qual o maior aprendizado que você tirou desse trabalho e qual sua maior saudade? Ah, não sei. É muito doido, né? É difícil responder este tipo de pergunta porque tudo é aprendizado. Foi meu primeiro emprego então eu saia da escola, ia gravar, passava à tarde inteira gravando, chegava tarde, ia para a escola no dia seguinte porque eu estava no ensino médio. Foi uma responsabilidade que eu comecei a ter e que eu tive que lidar com isso. Talvez isso.

Sem contar, óbvio, que com a prática a gente melhora como atriz. E lidando com as pessoas, com o público e com o texto, a gente aprende a ser seres humanos melhores. Acho que isso é o que eu mais aprendi dessa fase, e de todas, na verdade. Acho que cada trabalho que a gente tem, aprendemos muita coisa, mudamos bastante do início do processo até o final.

E o que me dá saudade? É bastante coisa. Era engraçado, era gostoso o clima, a gente brincava muito, zoava muito. Era bem gostoso. Eu sinto saudade de dançar, porque a gente dançava muito. Ensaiava, porque a gente tinha aula de dança, então tinha que ensaiar muito. Saudade de dançar, acho que eu vou atrás de uma aula de dança aliás.

E o que a Giovanna de hoje (2018) diria para a de Giovanna de 2013, quando lançou Chiquititas? Acho que para eu aproveitar tudo. Acho que eu aproveitei bastante, na verdade, mas também viver com calma, um dia de cada vez, sem desespero. Porque a gente se desespera muito, né? Quando somos novinhos estamos começando a trabalhar e aí quando acaba o trabalho é outro desespero. Mas agora eu já entendi que o trabalho sempre vai acabar, então a gente aceita e continua, segue em frente.

 

Fotógrafo: Mateus Aguiar / Stylist: Caio Gobbi / Cabelo e Maquiagem: Daniel Braz, Felipe Cavina e Miranda Preston

Para qualquer ator jovem, participar de Malhação é um grande pulo para a carreira decolar. Como foi todo o processo para você entrar na novela? E quando você foi escalada para o elenco, qual foi a sua reação?  A minha escalação foi outra novela, uma novela à parte. Eu tenho vários amigos que já fizeram Malhação e eles sempre me diziam que era muito legal, que era uma baita experiência e eu sempre tive muita vontade. E era a Malhação do Cao Hamburger, aí eu falei “nossa, eu tenho que fazer essa Malhação”. E é o Cao Hamburger, do Castelo Rá-Tim-Bum, o cara é muito incrível. E aí beleza, eu fiz os testes, fiz workshop pro teste. Isso foi em Setembro de 2016.

 

Aí beleza, os meses foram passando, ia saindo as notícias da galera que tava sendo aprovada e nada pra mim. E aí a galera começou a fazer workshop também e nada pra mim. A galera se mudou para o Rio, já tinha feito toda a preparação, aí que veio a minha aprovação. Então eu cheguei de paraquedas. Não fiz preparação junto com o elenco, não fiz nada disso e foi meio que na raça. Inclusive, o elenco foi maravilhoso porque eles me receberam de braços escancarados, me ajudaram em tudo que eu precisava.

A Samantha era muito pequena no começo, então eu não entendia ela direito. Cada cena era um chute tipo “será que eu estou fazendo certo? Será que eu to indo para o caminho certo?”. E acabou que foi um caminho muito lindo, né?

A Samantha foi uma personagem muito importante e que representou a geração Z. Quando você percebeu o tamanho da repercussão que sua personagem tinha? Acho que pelo Twitter. Juro. Todo dia eles levantavam tag para Limantha. Todos os dias. Desde que Limantha nasceu, até o último capítulo da novela, todos os dias a galera levantou tag. E eu fiquei muito impressionada porque a galera era esforçada e tinha uma união de todo o fandom, e as mensagens que eu recebia das meninas e meninos se identificando com a Samantha e falando o quão importante era isso, era incrível.

Aí eu tive noção de que eu tava fazendo uma coisa social. Era um serviço social isso, de você representar tanta gente que não se vê, não se enxerga nas mídias. Então pra mim foi muito lindo, eu fiquei muito honrada de poder contar essa história. Tenho muito orgulho desse trabalho, eu vou guardar para sempre no coração.

A representação LGBT na televisão brasileira está finalmente se tornando cada vez mais comum, tanto que a Malhação quebrou mais uma barreira exibindo um casal lésbico na TV aberta no horário da tarde, um horário que desde crianças até idosos assistem. O que você acha desse tema estar entrando cada vez mais abertamente na casa dos brasileiros? E como é para você poder ter feito parte disso? Eu acho que não fazia sentido a gente falar sobre diferenças sem citar o tema. É porque nos dias de hoje não é mais incomum. Faz parte da vida, sabe? Nós temos casais de meninas, casais de meninos por aí em qualquer lugar, e não mostrar isso na nossa Malhação não condizia com falar sobre a atual juventude.

E a gente fez todo esse trabalho com o maior cuidado, com o maior carinho do mundo, porque era a primeira vez que ia ter um casal de meninas na Malhação. Então a gente recebia as cenas, eu e a Manu estudávamos juntas, batíamos o texto, conversava sobre o que a gente tava falando, o nosso diretor ia lá, dirigia a gente com calma. Porque a gente também não queria que fosse tipo “ai meu deus, uma cena. Estamos falando sobre isso”. Não, era a vida. Eu acho que a partir do momento que a gente trata um assunto com normalidade, ele deixa de se tornar um tabu pra entrar com normalidade na cabeça das pessoas.

Vemos muito o movimento LGBT sendo representado na TV, em filmes, etc na maioria das vezes por casais gays. Você acha que casais lésbicos ainda acabam tendo uma representatividade menor do que casais gays? E você acha que a sociedade, de algum jeito, acaba aceitando mais a relação entre homens do que entre mulheres? Eu acho que eu não tenho propriedade para dizer quem tem mais representatividade, quem tem menos. A gente falava de uma coisa que tem muita pouca representatividade, que é a bixessualidade. A gente sempre tratou, na verdade, sem nomear. A gente não nomeava. Elas se gostavam como pessoas se gostam, sempre foi algo assim. Então eu não tenho muita noção, porque é uma coisa muito diferente, a forma como os casais gays e os casais lésbicos são vistos pela sociedade.

A gente representou bastante isso também na Malhação porque tinha o Gabriel que era gay, e tiveram cenas de violência que ele apanhou na rua por simplesmente ser gay. E as meninas, o tempo todo que elas estavam juntas tinham comentários machistas dos meninos achando que podiam se intrometer naquilo entre elas, porque sempre tem muito isso de quando tem duas meninas juntas parece que falta um homem lá dentro, mas não né gente, pelo amor de Deus. Então acho que é essas situações diferentes que os tipos de casais sofrem. E eu fico muito feliz que a gente pôde mostrar tudo isso na nossa Malhação.

Samantha era muito forte e acabava mostrando todo o seu poder feminino com a personalidade dela. O que o feminismo representa pra você e pra Samantha? Tudo. O feminismo é um movimento mega importante que durante muitos e muitos séculos o patriarcado criou raízes, criou regras e injustiças, isso é um fato. As mulheres ganham menos, sofrem mais violências domésticas, não têm o corpo respeitado, a galera acha que o corpo das meninas é público, que podem ficar dando pitaco, que podem pegar, mas não é assim que funciona.

Eu acho que o movimento feminista, que ganhou força nos últimos anos, veio para acordar. As meninas mais jovens hoje, as adolescentes, estão crescendo com uma visão totalmente diferente do mundo. Não aceitamos mais ficar nessa caixinha. Acho que nós estamos cada vez mais unidas, se sabotando menos, porque nos ensinaram que a outra mulher é nossa inimiga sendo que não é, a outra mulher é nossa irmã, a nossa maior ajuda, e eu estou sentindo que mudou muito, pra mim pelo menos, isso de eu me sentir mais forte com as minhas irmãs, com as minhas amigas, com outras mulheres. Eu acho que unidas a gente pode fazer muito a diferença, muitas mudanças, porque o machismo afeta tanto as mulheres quanto os homens. Eu acho que a partir do momento que a gente conseguir alcançar essa igualdade vai melhorar para todo mundo.

Fotógrafo: Mateus Aguiar / Stylist: Caio Gobbi / Cabelo e Maquiagem: Daniel Braz, Felipe Cavina e Miranda Preston



Além de novelas, você também se joga no mundo dos filmes e teatro. Para você, qual o maior ganho em experiência que você já tirou com cada uma dessas áreas e qual você prefere? É muito difícil responder o que a gente ganha mais ou o que que a gente tira de experiência, porque cada trabalho é um trabalho, cada trama é uma trama, cada elenco é um elenco, então a gente tira amigos, experiência profissional, experiência pessoal, aprende a ser paciente com um trabalho, aprende a ser ligeiro no outro, aprende tanta coisa.

É aquilo que eu tinha dito, a gente nunca entra num projeto e sai igual, sabe? É a arte da transformação, a gente transforma o meio e se transforma com tudo isso. E eu acho que eu não tenho um favorito entre teatro, cinema e TV porque é tudo muito diferente. O teatro é a raiz de tudo isso, eu comecei pelo teatro. Mas não tem isso de favorito porque é muito diferente mesmo, não tem nem como comparar. Eu amo os três.

E não podemos negar que você é toda talentosa, porque além de atuar, você também canta! Pretende lançar algo relacionado a música num futuro próximo? Sempre me perguntam se eu vou me lançar como cantora. Eu estou achando que eu deveria, né? Porque todo mundo me pergunta e eu sempre fico “não gente, pelo amor de Deus”. Ah, mas quem sabe. Ultimamente eu aprendi a não dizer nunca pra nada, então quem sabe. Eu gosto muito de cantar. Sempre fui cantora de chuveiro. Altos shows no chuveiro inclusive. Mas não sei gente, eu não sei, não façam pergunta difícil. Não sei.

Você é considerada uma das it girls do momento, toda estilosa DA SUA maneira, mas que cria tendência e inspira muitos outros jovens não apenas no quesito moda, mas também em estilo de vida. Você se mostra muito confiante e orgulhosa de quem você é. Que conselho você daria para as pessoas que sofrem com a insegurança? Eu acho que a gente vive numa sociedade muito cruel e de pressões. Principalmente agora que a gente vive no mundo do Instagram. O que as pessoas postam no Instagram, além de estar cheio de filtros, é sempre o momento mais feliz do dia. Ninguém fala que essa galera tem chulé, dor nas costas, marcas…

Eu sempre priorizei na minha vida procurar ser a melhor versão de mim mesma e descobrir qual era o meu estilo. Eu nunca quis copiar ninguém. Claro que a gente se inspira nas pessoas. É maravilhoso. A gente vê tantas it girls e garotas que deixam a gente super confiante e que mostram pra gente que não precisamos estar dentro de um padrão para poder ser bonita. Porque ficar dependendo da aceitação da sociedade é muito triste, nós temos que ser feliz com nós mesmo, sabe? O meu conselho é aprender a aceitar nós mesmas, se olhar no espelho e aceitar, nos tornar a melhor versão de nós mesmas por dentro e por fora, e ser criativa e feliz.

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